A minha experiência como voluntária em Cuidados Paliativos, à cabeceira de doentes crónicos e terminais, prova que é possível viver com qualidade e dignidade até ao fim. Falo de uma realidade que conheço cada dia melhor e revela uma prática científica muito completa e extraordinariamente humana. Comove ver a maneira como os profissionais de saúde especializados em Cuidados Paliativos cuidam dos doentes e lidam com as doenças. É importante, aliás, sublinhar a distinção entre a doença e a pessoa doente porque infelizmente ainda há muitos médicos e enfermeiros que insistem em ignorar os doentes e investem apenas no tratamento das doenças. Falo de todos aqueles para quem um doente é um número ou uma cama, falo dos que evitam o olhar interrogativo ou suplicante dos que sofrem por não quererem ou saberem dar resposta e falo dos que passam ao lado dos doentes acamados ou terminais porque acham que já não há nada a fazer. Falo de um sistema perverso que permite que os mais frágeis e vulneráveis sejam sujeitos a tratamentos desumanos. No sentido clínico mas também no sentido do acompanhamento pessoal.
Agora que percorro regularmente os corredores hospitalares percebo com mais alcance a diferença abissal que existe entre hospitais com ou sem unidades de cuidados paliativos.
Nuns as pessoas são tratadas de forma humana e a abordagem clínica embora complexa é sempre feita com base numa aliança terapêutica celebrada com o doente e a sua família; noutros os doentes são classificados como ‘casos perdidos’ e são muitas vezes abandonados ou esquecidos. Um dia até posso escrever um tratado sobre as pessoas que diariamente são negligenciadas nos serviços de saúde só porque são velhas ou estão à beira da morte. Conheço casos tremendos de abandono e ouço testemunhos inconcebíveis, alguns deles que envolveram crianças e jovens em fase terminal. Horroriza-me o abandono dos doentes e apavora-me esta classe médica que se recusa a aceitar a inevitabilidade da morte ou que a encara como um fracasso seu. E foi por me repugnar esta atitude que fiz o curso de voluntária em Cuidados Paliativos e é por conhecer cada vez melhor esta outra classe de profissionais de saúde que aposta na vida bem vivida até ao fim que não posso deixar de dar os parabéns a todos e a cada um dos profissionais especializados e, em particular, à Isabel Galriça Neto que acaba de ganhar um prémio justamente por ser quem mais tem lutado pela causa dos Cuidados Paliativos no nosso país.
Domingo, 3 de Fevereiro de 2008
Laurinda Alves
Nuns as pessoas são tratadas de forma humana e a abordagem clínica embora complexa é sempre feita com base numa aliança terapêutica celebrada com o doente e a sua família; noutros os doentes são classificados como ‘casos perdidos’ e são muitas vezes abandonados ou esquecidos. Um dia até posso escrever um tratado sobre as pessoas que diariamente são negligenciadas nos serviços de saúde só porque são velhas ou estão à beira da morte. Conheço casos tremendos de abandono e ouço testemunhos inconcebíveis, alguns deles que envolveram crianças e jovens em fase terminal. Horroriza-me o abandono dos doentes e apavora-me esta classe médica que se recusa a aceitar a inevitabilidade da morte ou que a encara como um fracasso seu. E foi por me repugnar esta atitude que fiz o curso de voluntária em Cuidados Paliativos e é por conhecer cada vez melhor esta outra classe de profissionais de saúde que aposta na vida bem vivida até ao fim que não posso deixar de dar os parabéns a todos e a cada um dos profissionais especializados e, em particular, à Isabel Galriça Neto que acaba de ganhar um prémio justamente por ser quem mais tem lutado pela causa dos Cuidados Paliativos no nosso país.
Domingo, 3 de Fevereiro de 2008
Laurinda Alves
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